Textos de Natal

O Natal é uma fonte de inspiração literária, por isso selecionamos um conjunto de textos da literatura que reflete o espírito de Natal cristão.

1. Noite de Natal

Na cidade, a Virgem Santa

Batera de porta em porta

-

“Dai-nos abrigo... Sofremos:

Escurece: o frio corta”.

E disse palavras novas:

Mas ninguém soube entendê-las.

Fecham-se as portas, na terra

Como, na treva, as estrelas.

(...)

-

Glória! Hossana!

Eis Jesus Cristo

No presépio de Belém.

São José pôs-se a adorá-lo;

Adora-O a Virgem Mãe.

(...)

E, sobre as palhas deitado,

O Deus Menino, Jesus

Sorri, - de braços abertos,

Lembrando a forma da Cruz...

Já no berço, - abrindo os braços, -

Lembrava a forma da Cruz

Antônio Correia de Oliveira

2. 

“Quando foi chegado o tempo

Em que de nascer havia,

Assim como o desposado,

Do seu tálamo saía

Abraçado à sua esposa,

Que em seus braços a trazia;

Ao qual a bendita Mãe

Em um presépio poria

Entre pobres animais

Que então por ali havia.

Os homens davam cantares,

Os anjos a melodia,

Festejando o desposório

Que entre aqueles dois havia.

Deus, porém, no presépio

Ali chorava e gemia;

Eram joias que a esposa

Ao desposório trazia;

E a Mãe se assombrava

Da troca que ali se via:

O pranto do homem em Deus,

E no homem a alegria;

Coisas que num e no outro

Tão diferente ser soía”.

São João da Cruz

3Canto de Natal

O nosso menino

Nasceu em Belém.

Nasceu tão-somente

Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.

Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.

Manuel Bandeira

4Crônica de Natal

    Quando nasceu o amor, era pequeno e frágil. Na noite de Belém, o pobrezinho envolvido na manjedoura viu com os olhos humanos, o mundo se abrir no frio e na precariedade. Embalado pelo Simples Carpinteiro e a Bem Aventurada entre todas, abençoados por alguns poucos animais.

    O menino Deus, junto as criaturas da terra vocacionado ao amor, ainda no ventre conheceu a humilhação de não ter sequer um lugar para que sua Mãe pudesse com dignidade concretizar o Sim que dera ao anjo, mas cumpriu-se as escrituras:

    A virgem ficará grávida e dará à luz um filho, e o chamarão Emanuel, que significa “Deus conosco” (Mateus 1:23)

    O Príncipe da Paz se fez Deus e o menino Cristo iluminou a noite e encheu o mundo com seus gestos singelos de beleza que se espalhou pelos campos e encantou com luz resplandecente anunciando sua natividade. Brilhou a sua glória no céu e na terra, os joelhos se dobram para adorar em Jesus a salvação que chegou.

    Ouro, incenso e mirra ao pequeno Emanuel e paz na terra aos homens porque a glória de Deus está entre nós. É o Senhor que nasceu e reina para que o plano de amor nos ensine de novo a esperança de reaprender com a criança essa grandeza do Rei que se fez homem e cresceu entre nós para conosco morar e viver para sempre.

    Luis Alberto 

    5Soneto de Natal

      Um homem, — era aquela noite amiga,

      Noite cristã, berço do Nazareno, —

      Ao relembrar os dias de pequeno,

      E a viva dança, e a lépida cantiga,

      Quis transportar ao verso doce e ameno

      As sensações da sua idade antiga,

      Naquela mesma velha noite amiga,

      Noite cristã, berço do Nazareno.

      Escolheu o soneto . . . A folha branca

      Pede-lhe a inspiração; mas, frouxa e manca,

      A pena não acode ao gesto seu.

      E, em vão lutando contra o metro adverso,

      Só lhe saiu este pequeno verso:

      "Mudaria o Natal ou mudei eu?"

      Machado de Assis

      6Hino dos Reis Magos

      Entre pobreza e miséria,

      Em singela habitação

      É nascido o Deus-Menino

      Para a nossa salvação.

      Povos e reis, adorai-o,

      É nascido o Redentor:

      Vem viver, sofrer na terra.

      Vem morrer por nosso amor.

      Deixou a corte celeste

      E as galas ricas dos céus,

      Quem entre os homens é Homem,

      Quem entre os anjos é Deus.

      Povos e reis, adorai-o,

      É nascido o Redentor:

      Vem viver, sofrer na terra,

      Vem morrer por nosso amor.

      Lá das partes do Oriente,

      Deixando os domínios seus,

      Vêm os Magos pôr as coroas.

      Aos pés do Menino-Deus.

      Povos e reis, adorai-o,

      É nascido o Redentor:

      Vem viver, sofrer na terra.

      Vem morrer por nosso amor.

      Vêm oferecer os presentes

      Que a Arábia Feliz produz.

      Louvor a Deus nas alturas,

      Louvor na terra a Jesus.

      Povos e reis, adorai-o,

      É nascido o Redentor:

      Vem viver, sofrer na terra.

      Vem morrer por nosso amor.

      Gonçalves Dias

      7

      Jesus nasceu. Na abóbada infinita

      Soam cânticos vivos de alegria;

      E toda a vida universal palpita

      Dentro daquela pobre estrebaria...

      Não houve sedas, nem cetins, nem rendas

      No berço humilde em que nasceu Jesus...

      Mas os pobres trouxeram oferendas

      Para quem tinha de morrer na cruz.

      Sobre a palha, risonho, e iluminado

      Pelo luar dos olhos de Maria,

      Vede o Menino-Deus, que está cercado

      Dos animais da pobre estrebaria.

      Nasceu entre pompas reluzentes;

      Na humildade e na paz deste lugar,

      Assim que abriu os olhos inocentes

      Foi para os pobres seu primeiro olhar.

      No entanto, os reis da terra, pecadores,

      Seguindo a estrela que ao presepe os guia,

      Vem cobrir de perfumes e de flores

      O chão daquela pobre estrebaria.

      Sobem hinos de amor ao céu profundo;

      Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal!

      Sobre esta palha está quem salva o mundo,

      Quem ama os fracos, quem perdoa o mal,

      Natal! Natal! Em toda a natureza

      Há sorrisos e cantos, neste dia...

      Salve Deus da humildade e da pobreza

      Nascido numa pobre estrebaria.

      Olavo bilac

      8. O Presépio

      É delicioso percorrer com a mente todas as fases do nascimento, engolfar-se pelas ruas desta cidade de Deus. Admirar o solar que acolheu o Senhor, o palácio em que habitou o Cristo-Rei, a branda almofada em que repousou menino, as sagradas companheiras servas da Mãe, os cantos e melodias noite santa que acalentaram o Divino Infante . . . Nasce em Belém, abrigado em velha choupana: nu, a nua terra lhe acolhe o nascimento. Transforma-se em berço a manjedoura: de um lado um boi, de outro, um jumentinho. Silenciosamente, um venerando ancião embebe o olhar em seu rosto. Exulta a jovem Mãe, solta tenros vagidos a criancinha, rejubila o céu com melodias nunca ouvidas. E tu, ó minha alma, aí entorpecida! por que não visitas esse palácio maravilhoso, esse sagrado abrigo? Vamos, que não te expulsará do limiar o porteiro nem te fechará à face as portas. Não tem porta o casebre, pouso ótimo de brutos: os frios tem por ela franca entrada. Entrarás num tugúrio miserando de teto enfumaçado, numa cabana coberta de caniços.

      Pe. José de Anchieta