Ao presidir a concelebração que comemora pela primeira vez a festa de São Josemaría Escrivá, D. Cláudio dá continuidade a uma longa amizade da nossa Arquidiocese com São Josemaría, amizade que se iniciou nos idos tempos do Cardeal Motta quando, com a sua bênção, o Opus Dei abriu em 1959 seu primeiro Centro em São Paulo. Anos mais tarde, em 1974, quando Mons. Escrivá esteve em Aparecida, acompanhado numa romaria por muitas centenas de fiéis do Opus Dei, D. Carlos Carmelo, na altura Arcebispo de Aparecida, manifestou sua alegria pela força espiritual daquela semente que vira nascer e que desabrochava com uma nítida identidade mariana.
A amizade e a estima entre Mons. Escrivá e D. Agnello Rossi foi também intensa e recíproca: D. Agnello acompanhou passo a passo o crescimento do Opus Dei na arquidiocese dando constante incentivo e apoio. Em 1992, quando Mons. Escrivá foi beatificado, D. Agnello fez questão de estar presente na Praça de São Pedro e de presidir a Missa em ação de graças para milhares de peregrinos de língua portuguesa que foram a Roma.
Esse mesmo afeto e apoio foi ratificado por D. Paulo Evaristo, com quem São Josemaría teve um memorável e cálido encontro na Cúria Metropolitana, já na Av. Higienópolis, em 1974. Naquela ocasião, além de todas as suas funções como pastor, D. Paulo era o último recurso a que recorriam muitos prisioneiros políticos e seus familiares, e ele nunca deixou de atendê-los: justamente naquelas semanas foi obrigado a fazer várias visitas ao DOPS, consolando e intercedendo por alguns deles. Ainda assim, D. Paulo conseguiu uma brecha em sua agenda e esse encontro realizou-se no dia 4 de junho. Junto a Mons. Escrivá, estavam presentes Mons. Álvaro del Portillo -primeiro bispo-prelado e sucessor de Mons. Escrivá à frente do Opus Dei, falecido em 1994-, e Mons. Xavier Ayala, então conselheiro do Opus Dei no Brasil, velho amigo de D. Paulo. Fluente em vários idiomas, D. Paulo teve a delicadeza de conversar com o Fundador do Opus Dei em italiano, e conversaram num diálogo fraterno e animado.
Naquele encontro, o Cardeal deu a conhecer a Mons. Escrivá, pedindo-lhe orações, diversos assuntos da imensa Arquidiocese, detalhes dos graves problemas sociais que enfrentava, da má distribuição da renda, da pobreza das periferias, da falta de infra-estrutura na cidade... São Josemaría acompanhava com muita atenção todas as preocupações do Cardeal. Conversaram também a respeito das religiosas de clausura e do aspecto decisivo de apoiar toda a atividade pastoral na oração. Ao despedir-se, o clima cordial e fraterno do encontro levou Mons. Escrivá a pedir licença a D. Paulo para dar-lhe dois beijos nas faces, a la romana, como, é costume na Itália entre amigos e irmãos. D. Paulo correspondeu com um forte abraço.
Nessa sua estadia em São Paulo São Josemaría teve um inesquecível encontro com sacerdotes diocesanos; e dezenas de reuniões com milhares de leigos paulistanos. Pela sua capacidade de captar a realidade eclesial, pôde compreender bem as luzes e sombras de nossa cidade e de sua Igreja. Rezou muito pela arquidiocese de São Paulo e por seus Arcebispos e agora que está nos altares, certamente continua a interceder intensamente por esta Igreja Particular.
Naqueles 17 dias transcorridos aqui, nos encontros com pessoas, de todas as classes e condições sociais, ao mesmo tempo que os elevava para ideais de santidade na vida cotidiana, lembrava-lhes, repetidas vezes, em uníssono com a mente do Cardeal, a responsabilidade de todo o cristão, coerente com a sua fé, de buscar maneiras de remediar as desigualdades sociais no próprio ambiente. Animava-os a que procurassem ter iniciativas, com vistas a ajudar na promoção humana e espiritual dos seus semelhantes.
Passaram-se já muitos anos. O Centro Educacional da Pedreira na periferia de São Paulo é uma das principais materializações do incentivo e do alento de São Josemaría à promoção de atividades que, imbuídas de uma sólida formação profissional, humana e espiritual, facilitem o acesso ao trabalho dos jovens com poucos recursos. D. Paulo, ao dar a vênia para que se pudesse dar início a esta obra corporativa do Opus Dei em 1984, manifestou sua alegria por ver neste bairro carente da zona sul, que tanto ocupava o seu coração de Pastor, concretizar-se uma atividade apostólica que vinha ao encontro de uma linha pastoral prioritária da Arquidiocese.
Foi com grande alegria que, no próprio dia 6 de outubro de 2002, dia da canonização de Mons. Escrivá, a comunidade da Pedreira recebeu D. Paulo Evaristo no Centro Educacional para a celebração eucarística de ação de graças pela canonização. Foi a maneira, cheia de sentido humano e de fé, com que o Cardeal Arns retribuiu a visita que São Josemaría lhe fizera em 1974. Ao final daquela cerimônia, D. Paulo quis dar a bênção com a relíquia do novo santo, usando a fórmula da bênção, de tom patriarcal, cuja fórmula São Josemaría compôs espontaneamente e que empregou para abençoar a multidão que se reunia no Palácio Mauá: Que vos multipliqueis como as areias de vossas praias, como as árvores dos vossos bosques imensos, como as flores de vossos campos, como o gorjeio de vossos pássaros, como os luzeiros que brilham na noite, como os grãos aromáticos do vosso café.
Ao celebrar pela primeira vez a Missa de São Josemaría no último sábado, na Catedral da Sé, repleta de fiéis, D. Cláudio –como estímulo de fé e incentivo para a evangelização – quis repetir o gesto de D. Paulo, pedindo com essa “bênção patriarcal” a intercessão de São Josemaría para toda a Arquidiocese de São Paulo e para o Opus Dei.
Mons. Vicente Ancona Lopez é vigário regional da Prelazia do Opus Dei no Brasil