São Josemaría Escrivá, o santo do cotidiano

“O que me aproximou dessa instituição da Igreja foi a convicção de que o trabalho profissional, o nosso dia-a-dia, frequentemente carregado de estresse, pode ser elevado ao plano sobrenatural. E então as coisas mudam de tom”.

Uma data vem à minha memória, trazendo a evocação de uma figura extremamente amável. Refiro-me a São Josemaría Escrivá, o fundador do Opus Dei. Conheci-o pessoalmente em 25 de maio de 1974, quando de sua passagem por São Paulo. Aqueles momentos me deixaram a impressão indelével de ter visto e ouvido um homem de Deus.

Pouco mais de um ano depois, em 26 de junho de 1975, recebi a notícia de seu repentino falecimento, em Roma. Desde então, a sua fama de santidade se espalhou pelo mundo inteiro, despertando a devoção de milhares de cristãos, entre os quais me incluo. De fato, em coisas grandes e pequenas, experimento, frequentemente, a intercessão de São Josemaría.

Emocionou-me acompanhar pela TV a sua canonização no dia 6 de outubro do ano passado, na Praça de São Pedro, no Vaticano, e ver aquela multidão ultrapassando os limites do Vaticano e chegando ao Castel Sant'Angelo. Pelos cálculos, mais de 400 mil pessoas participaram da cerimônia. Acompanhado por mais de 400 cardeais, arcebispos e bispos, o papa concelebrou a missa da canonização. Na homilia, João Paulo II afirmou a atualidade dos ensinamentos do novo santo.

Citando São Josemaría Escrivá, o papa salientou: "Encontramos o Deus invisível nas coisas mais visíveis e materiais." Segundo o papa, a doutrina da santificação da vida cotidiana, difundida pelo fundador do Opus Dei, permite compreender "mais facilmente o que afirma o Concílio Vaticano II: a mensagem cristã não desvia os homens da construção do mundo (...), mas, ao contrário, impõe-lhes um dever mais rigoroso".

Já se passaram 30 anos dos meus primeiros contatos com o Opus Dei. O que me aproximou dessa instituição da Igreja foi a convicção de que o trabalho profissional, o nosso dia-a-dia, frequentemente carregado de estresse, pode ser elevado ao plano sobrenatural. E então as coisas mudam de tom. O que era desgastante se transforma em matéria-prima do nosso encontro com Deus. "As pessoas, geralmente, têm uma visão plana, pegada à terra, de duas dimensões.

Quando a tua vida for sobrenatural, obterás de Deus a terceira dimensão: a altura e, com ela, o relevo, o peso e o volume", diz São Josemaría em Caminho, um best seller que ultrapassou 4 milhões de exemplares, em 42 línguas diferentes.

Mas, sobretudo, gostaria de evocar um aspecto de sua vida que me parece particularmente marcante: a sua lição de perdão. O Espírito Santo havia dilatado tanto o seu coração que nele cabiam folgadamente todos, mesmo aqueles que em algum momento não lhe quiseram bem e promoveram duras contradições, campanhas denegridoras e calúnias incríveis em torno da sua pessoa e da sua obra. Ensinou, com seu exemplo e sua doutrina, que "o Opus Dei não tem inimigos", "não é antinada nem antinimguém": "Não queirais mal a ninguém, nunca. (...) É preciso saber perdoar. Depois, se este ou aquele vos diz que é heroísmo, dai risada. É uma coisa esplêndida. Porventura não nos perdoa Deus quando O ofendemos? Como não havemos nós de perdoar?"

Eis uma boa lição para a nossa vida. A experiência do perdão de Deus é o que nos leva a saber perdoar. E só assim somos capazes de superar o círculo vicioso dos antagonismos que desumanizam as relações na sociedade e abrem profundas cicatrizes na alma de tantas pessoas. No próximo sábado, dia 28, às 10 horas, na Catedral da Sé, o cardeal-arcebispo de São Paulo, dom Cláudio Hummes, presidirá à solene concelebração eucarística em honra de São Josemaría Escrivá. Lá estarei para honrar este grande santo da Igreja.

César Tácito Lopes Costa é jornalista

    César Tácito Lopes Costa // O Estado de S. Paulo