Textos sobre o Advento (1): "Para pegar no Menino"

Neste Tempo de Advento, publicaremos homilias do Bem-aventurado Álvaro sobre a preparação para o Natal. O primeiro texto nos anima a que nos disponhamos para receber Jesus Cristo espiritualmente e sacramentalmente na Eucaristia.

(Texto de 1 de dezembro de 1986, publicado em "Caminar con Jesús al compás del año litúrgico", Ed. Cristiandad, Madrid 2014, pp. 50-55).

Dominus prope est![1], o Senhor está próximo! É o grito que a liturgia faz ressoar nos nossos ouvidos, de mil modos diferentes, ao longo destas semanas anteriores ao Natal. Convida-nos a preparar a vinda espiritual de Cristo às nossas almas, com tanto mais urgência quanto mais se aproximam os dias felizes do Nascimento de Jesus. E, ao mesmo tempo, estas palavras trazem-me à memória aquela estrela brilhante de que nos falava o nosso Padre, que o Senhor nos colocou na testa. Minha filha, meu filho, a chamada que Deus nos fez para ser Opus Dei tem que ressoar na nossa alma como um constante matraquear, mais forte do que qualquer outro elo de união e há-de levar-nos a saber que a marca de Deus nas nossas vidas não se apaga nunca[2]. Dêmos-Lhe graças, procuremos segui-l'O muito de perto e removamos com determinação tudo o que nos afaste d'Ele, mesmo que pareça um detalhe de muito pouca entidade.

O Advento é um dos tempos fortes da Sagrada Liturgia, com que a nossa Mãe a Igreja nos estimula a purificar-nos de modo especial, pela oração e a penitência, para acolher a abundante graça que Deus nos envia, porque Ele é sempre fiel. Nestes dias somos convidados a procurar — diria que com mais afinco — o trato com Maria e com José na nossa vida interior; pede-se-nos uma oração mais contemplativa e que afinemos com manifestações concretas no espírito de mortificação interior. Assim, quando Jesus nascer, seremos menos indignos de Lhe pegar, de O estreitar contra o nosso peito, de Lhe dizer essas palavras inflamadas com as quais um coração apaixonado — como o de todas as minhas filhas e de todos os meus filhos, sem exceção — necessita de se manifestar.

Detenho-me nestas considerações para vos recordar que não nos podemos limitar a esperar o Natal, sem nada pôr da nossa parte. Reparai no que uma vez o nosso Padre respondeu a um seu filho que lhe perguntava como viver melhor o Advento: «Desejando que o Senhor nasça em nós, para que vivamos e cresçamos com Ele e cheguemos a ser ipse Christus, o próprio Cristo»[3]. E concretizava naquela ocasião: «Que se note em que renasçamos para a compreensão, para o amor que, em último termo, é a única ambição da nossa vida»[4].

Minhas filhas e meus filhos, se, ao meditar estas palavras, começais a acompanhar o Advento com mais entusiasmo — com mais esforço — dia após dia, ainda que seja contra a corrente, mesmo que vos pareça uma comédia, quando o Senhor nascer no Natal encontrará as vossas almas bem dispostas, com a decisão firme de Lhe oferecer esse acolhimento que os homens Lhe negaram há vinte séculos, como também agora lho negam; e dareis a este vosso Padre uma grande alegria.

Mas não é coisa só do Advento, todos os dias Jesus vem a nós, na Sagrada Comunhão. «Chegou o Advento. Que bom tempo — escreve o nosso Padre — para renovar o desejo, a saudade, as ânsias sinceras da vinda de Cristo!; pela sua vinda quotidiana à tua alma na Eucaristia! —"Ecce veniet!" — que está a chegar! Anima-nos a Igreja »[5]. Como nos preparamos para O receber, cada dia? Que detalhes de amor cuidamos? Que limpeza procuramos nos nossos sentidos, que adornos na nossa alma? Como é a tua piedade? Procuras acompanhá-lo no Sacrário do teu Centro? Pedes que cresça diariamente a vida eucarística nos fiéis da Prelazia? Os que contigo convivem conhecem a tua intimidade com Cristo na Hóstia Santa? Não há melhor momento do que o da Sagrada Comunhão para suplicar a Jesus — realmente presente na Eucaristia — que nos purifique, que queime as nossas misérias com o cautério do seu Amor; que nos inflame em desejos santos; que mude o nosso coração — tantas vezes mesquinho e não agradecido — e nos obtenha um coração novo, com que amar mais a Trindade Santíssima, Nossa Senhora, São José, todas as almas. E aproveitai esses momentos para renovar o vosso compromisso de amor, pedindo a este nosso Rei que nos ajude a viver cada dia com novo empenho de apaixonados.

Aconselho-vos que repitais — saboreando-as! — muitas comunhões espirituais. Rezai com frequência durante estas semanas — também eu procuro metê-lo na minha alma — o veni, Domine Iesu! — vem, Senhor Jesus! — que a Igreja repete insistentemente. Dizei-lho, não só como preparação para o Natal, mas também para a Comunhão de cada dia. Deste modo, ser-nos-á mais fácil descobrir o que não está bem na nossa luta quotidiana e, com a graça de Deus e o nosso esforço, removê-lo-emos. Não esqueçais que a nossa entrega bem vivida, com fidelidade constante, é a melhor preparação para esse encontro com Cristo no Natal e na Sagrada Eucaristia.

Veni, Domine, et noli tardare!, vem, Senhor e não tardes. À medida que decorrem as semanas, o grito da Igreja — o teu e o meu — sobe ao Céu de forma mais premente. Relaxa facinora plebi tuae!, destrói as ataduras — os pecados— do teu povo! Não podemos limitar-nos a implorar o perdão pelas nossas misérias; temos também de o suplicar pelos pecados dos outros. Jesus, minhas filhas e meus filhos, veio ao mundo para redimir toda a humanidade. Também agora deseja meter-se no coração de todas as pessoas, sem qualquer exceção.

Advento significa expectativa e quanto mais se avizinha o acontecimento esperado, maior é o desejo por vê-lo realizado. Nós, juntamente com tantos outros cristãos, desejamos que Deus ponha ponto final à dura prova que aflige a Igreja, já há muitos anos. Desejamos que este longo advento chegue finalmente ao seu termo: que as almas se movam para a verdadeira contrição; que o Senhor se faça presente mais intensamente nos membros da sua amada Esposa, a Igreja Santa. Desejamo-lo e pedimo-lo com toda a alma: magis quam custodes auroram[6], mais do que a sentinela deseja a aurora, ansiamos que a noite se transforme em pleno dia.

Que bom tempo, filhos, é este Advento para intensificar a nossa petição pela Igreja, pelo Papa e seus colaboradores, pelos Bispos, pelos sacerdotes e pelos leigos, pelas religiosas e religiosos, por todo o Povo santo de Deus! E é oração, não só a súplica que sai dos lábios ou a que formulamos com a mente, mas a vida inteira, quando se gasta no serviço do Senhor. Vos recordo com umas palavras que o nosso Fundador nos dirigia no início de um novo ano litúrgico: «Temos de andar pela vida como apóstolos, com luz de Deus, com sal de Deus. Com naturalidade, mas com tal vida interior, com tal espírito do Opus Dei, que iluminemos, que evitemos a corrupção e as sombras que há à volta. Com o sal da nossa dedicação a Deus, com o fogo que Cristo trouxe à terra, semearemos a fé, a esperança e o amor por todas as partes, seremos co-redentores e as trevas transformar-se-ão em dia claro»[7].

Continuai a pedir com fé, bem unidos às minhas intenções e seguríssimos da eficácia infalível desta oração. O Senhor escutou o nosso Padre quando lhe rogava — só Ele sabe com que ardor e intensidade! — pelo que levava na sua alma, e ouviu — não tenho a menor dúvida — as incessantes súplicas que em todos os recantos do mundo se elevaram ao Céu unidas à intenção da sua Missa. Mas, minhas filhas e meus filhos, com a força que me vem de ter ocupado o seu lugar, insisto: uni-vos à minha oração! E até me atrevo a pedir-vos que gasteis a vossa vida nesse empenho. Sim, repito-o ao teu ouvido: devemos rezar mais, porque não conhecemos a medida de oração estabelecida por Deus — na sua justíssima e admirável Providência — antes de nos conceder os dons que esperamos. Simultaneamente, uma coisa é certíssima: a oração humilde, confiada e perseverante é sempre escutada. Um fruto desta nossa súplica, mais intensa durante o Advento, é compreender que podemos, que devemos rezar mais. Não desfaleçamos!

Como a Prelazia é parte integrante da Igreja, pediremos também pelo Opus Dei, instrumento de que Deus quer servir-se para estender o seu reinado de paz e de amor entre os homens. Também a Obra vive constantemente o seu advento, a sua expectativa gozosa do cumprimento da Vontade de Deus. São tantos os panoramas apostólicos que o Senhor nos põe diante! Início de novos trabalhos apostólicos, consolidação — em extensão e em profundidade — dos que já se realizam em tantos lugares; novas metas no nosso serviço à Igreja e às almas... E, acima de tudo, o Senhor quer a fidelidade dos meus filhos, a lealdade inquebrantável de cada um à chamada divina, aos seus pedidos, a esta graça inefável da vocação com que quis selar as nossas vidas para sempre.


[1] IV Domingo do Advento (Ant. ad Invitatorium).

[2] N. ed. O mesmo se pode dizer da vocação cristã em geral. Estas considerações de D. Álvaro são aplicáveis a todos os batizados.

[3] S. Josemaria, Notas de uma reunião familiar, 23-XI-1966 (AGP, biblioteca, P01, 1977, p. 1233).

[4] Ibid.

[5] S. Josemaria, Forja, n. 548.

[6] Sal129, 6.

[7] S. Josemaria, Notas de uma meditação, 3-XII-1961 (AGP, biblioteca, P01, XII-1964, p.62).