3. Os anos do seminário

Porque vou para sacerdote? O Senhor quer alguma coisa; o que seria? E com um latim de baixa latinidade repetia: 'Domine, ut videam! Ut sit!' Que seja isso que Tu queres e que eu ignoro.

Com os seus companheiros do seminário de São Carlos, em Saragoça

Josemaria pressentia que Deus o estava preparando para qualquer coisa... Que seria? Não sabia. “Vêm-me ao pensamento tantas manifestações do Amor de Deus naqueles anos da minha adolescência – recordava –, ao pressentir que Nosso Senhor queria algo de mim, algo que eu não sabia o que era. E começou a pedir na sua oração, cada vez com mais força:

– Senhor, que eu veja!

Em 1918 começou os estudos eclesiásticos no Seminário de Logronho, como aluno externo, como era costume fazerem os seminaristas que viviam nessa cidade; e dois anos depois, em 1920, entrou para o Seminário de São Carlos, de Saragoça.

O Arcebispo de Saragoça, Cardeal Soldevila, que foi assassinado pouco tempo depois por ódio à fé, percebeu logo o dom de gentes, as qualidades espirituais e morais do jovem Josemaria. Via nele um jovem responsável, alegre, com muito bom humor; e em 1922, deu-lhe o cargo de inspetor do seminário. Em 1923, com autorização dos superiores, conseguiu realizar um velho desejo do seu pai e começou também a fazer o curso de Direito na Universidade Civil de Saragoça.

Basílica de Nossa Senhora do Pilar, Saragoça

O jovem seminarista ia todos os dias à Basílica do Pilar, muito próxima e confiava a Nossa Senhora os seus anseios e a sua inquietação íntima. “Meio cego, estava sempre à espera do porquê. Porque me faço sacerdote? O Senhor quer qualquer coisa, mas que será? E repetia: Domine, ut videam! Ut sit ! Ut sit! Que seja isso que tu queres e que eu ignoro. Domina, ut sit!”.

Passava longos tempos de oração junto do Sacrário na capela do Seminário. Por vezes, durante a noite. “Um dia – contava - pude ficar na igreja depois de fechadas as portas. Dirigi-me à Virgem Maria, com a cumplicidade de um daqueles bons sacerdotes, já falecido, subi os poucos degraus que os meninos de coro conhecem tão bem e, aproximando-me, beijei a imagem da nossa Mãe. Sabia que não era esse o costume, que beijar o manto era permitido apenas às crianças e às autoridades. No entanto tive e tenho a certeza que à minha Mãe do Pilar agradou que, por uma vez, eu fizesse uma excepção aos costumes estabelecidos na sua catedral”.

28 de Março de 1925, Josemaria sacerdote

No dia 27 de Novembro de 1924, recebeu uma notícia inesperada: era chamado com urgência a Logronho, pois o pai tinha falecido subitamente. “O meu pai morreu esgotado – recordava anos mais tarde –. Tinha um sorriso nos lábios...”.

José Escrivá, que tanto o ajudara com a sua generosidade e os seus conselhos, não estaria presente na ordenação sacerdotal do seu filho Josemaria, que guardaria dele, sempre vivo, o exemplo de honradez e de espírito de sacrifício. Após a sua morte, passou a ser cabeça de família, com graves problemas econômicos por resolver.

No dia 28 de Março de 1925, Josemaria Escrivá foi ordenado sacerdote na capela do Seminário. No dia 30, celebrou a primeira Missa na Basílica do Pilar, em sufrágio pela alma do pai. Só estavam presentes a mãe, os irmãos e alguns amigos. Desde aquele momento a Santa Missa reafirmou-se como verdadeiro centro da sua vida. Ao longo da sua existência, Deus ir-lhe-ia dando luzes decisivas para a sua missão, durante a celebração da Eucaristia. “Deves lutar por conseguir que o Santo Sacrifício do Altar seja o centro e a raiz da tua vida interior, de modo que todo o teu dia se converta num ato de culto - prolongamento da Missa a que assististe e preparação para a seguinte -, que vai transbordando em jaculatórias, em visitas ao Santíssimo Sacramento, em oferecimento do teu trabalho profissional e da tua vida familiar...”.