O Papa Francisco visita o Peru na 23ª viagem apostólica do seu Pontificado

João Paulo II visitou o país de 1 a 15 de fevereiro de 1985 e de 14 a 16 de maio de 1988. Desta vez, logo que termine a sua viagem ao Chile, o Papa fica no Peru até ao dia 21 de janeiro.

O anúncio oficial da visita fora feito em julho passado pela Conferência Episcopal do país, com a presença de muitos bispos peruanos. Desde que a viagem foi anunciada, as expectativa na população foram crescendo, pois receberá pela primeira vez um Papa da América Latina.

Peru: as cidades da viagem apostólica

Para a visita ao Peru, foram selecionadas três cidades. Puerto Maldonado, cidade amazônica, é reflexo da preocupação do Papa pela ecologia. Nessa zona periférica do Peru, há problemáticas relacionadas com o tráfico humano, comunidades indígenas, ilegalidade mineira e contaminação ambiental, muito bem retratados na sua encíclica Laudato Si´.

Trujillo, a segunda cidade que o Papa vai visitar foi escolhida por ser uma das cidades do norte do Peru afetada pelo furacão El Niño, que prejudicou milhares de habitantes em 2017. O Papa Francisco vai dar uma volta no papamóvel pelo bairro de “Buenos Aires” e espera-se que fale com alguns dos que foram afetados por essa situação climática que deixou sem casa muitas pessoas ao longo da costa peruana.

Jardim da sede eclesiástica de Trujillo, onde foram pintados óleos e um mural que representa a vida de S. Francisco.

Lima foi escolhida por ser capital do Peru e berço de santos peruanos, tais como S. Martinho de Porres e Santa Rosa de Lima, a quem o Papa Francisco tem especial devoção; rezará diante das suas relíquias durante a sua visita à Basílica Catedral de Lima, onde haverá uma missa multitudinária no dia 21 de janeiro.

O Peru e o Chile, unidos pela religiosidade popular

O lema da visita do Papa ao Chile é “Dou-vos a minha paz” e no Peru é “Unidos pela esperança”. Nos últimos anos, a integração entre os dois países foi crescendo graças a diversos fatores, mas especialmente à religiosidade popular, pois ao serem vizinhos, ambos compartilham devoções em comum.

Muitos migrantes peruanos estão radicados no Chile onde se fixaram com os seus costumes e devoções, entre as quais sobressaem o Senhor dos Milagres, cuja procissão no mês de outubro é muito concorrida, não só em Lima, mas também pelas ruas de Santiago.

As arquidioceses de Santiago e Lima publicaram no início da década o livro Unidos por la fe em que se pode apreciar a religiosidade popular comum, manifestada em muitas devoções que unem as populações dos dois países (cf. https://www.novumeditorial.cl/unidos-por-la-fe/)

Por outro lado, em 18 de janeiro, véspera da viagem do papa ao Peru, o Papa Francisco celebra uma missa na cidade de Iquique dedicada aos migrantes; espera-se a presença de milhares de peruanos que vão viajar de várias cidades do sul do Peru para estarem presentes nesta celebração eucarística, a última atividade do Papa Francisco no Chile.

A misericórdia, eixo das visitas

Fiel à prática das obras de misericórdia, a viagem do Papa Francisco está marcada por uma forte componente social. O Santo Padre visitará pela primeira vez no seu pontificado uma prisão de mulheres em Santiago; irá à cidade de Temuco, onde celebrará uma missa no aeroporto de Maqueque, e a seguir almoçará com alguns habitantes de Araucanía.

Por sua vez, no Peru, o Papa Francisco terá um encontro com os povos da Amazônia, com a população e com crianças abandonadas na cidade de Puerto Maldonado: percorrerá no papamóvel o bairro de “Buenos Aires” em Trujillo. Manterá também encontros com sacerdotes e religiosos nesta última cidade e um encontro mariano na Praça de Armas com Nossa Senhora da Porta, a quem se tem enorme devoção no norte peruano.

Nos dois países, o Papa terá reuniões com os que fazem parte da Companhia de Jesus. No Chile, será no Santuário de Santo Alberto Hurtado S.J., e no Peru, na igreja de S. Pedro, uma das igrejas mais tradicionais do centro histórico de Lima.

“Revolução da ternura” nas prisões peruanas

Uma componente que valoriza muito a visita ao Peru é o modo como a população prisional se mobilizou afetuosamente, para dar as boas vindas a Francisco, o que pode supor boas notícias para a sociedade peruana muito preocupada pela segurança dos cidadãos e pelos índices de criminalidade. Em várias cadeias do país vive-se una autêntica “revolução da ternura”, como gosta de dizer o Papa Francisco. Por exemplo, em Puerto Maldonado os reclusos compuseram a canção Esperanza y amor e confeccionaram uma casula para o Papa utilizar no Peru.

Preparando terços para a vista do Papa numa prisão

Na prisão de Cañete, também dedicaram uma canção em honra do Papa Francisco, enquanto que os presos de Callao vão cantar o tema Francisco ya es peruano na missa que celebrará na Base Aérea de “Las Palmas” como fim de festa na sua passagem pelo Peru.

Juntamente com isso, mulheres e homens a cumprir penas de prisão em 12 cadeias do país, com uma destreza manual impressionante, fizeram em três meses um total de 300 mil terços de madeira e miçanga que já puseram à venda em centros comerciais, com a finalidade de ajudar à sua reinserção social; parte do produto dessas vendas irá para os próprios reclusos.

Papa Francisco ao Peru: “tenho muita vontade de ir”

Nos últimos meses, o ambiente da visita do Papa Francisco ao Peru foi sendo preparado com mensagens sucessivas que foi enviando em diferentes alturas, algumas delas gravadas pelo arcebispo de Lima, cardeal Juan Luis Cipriani.

Na primeira mensagem de agosto de 2017, o Vigário de Cristo recorda os santos peruanos e finaliza a sua mensagem dizendo: “vamos ver-nos em breve, mas entretanto trabalhem na unidade e na esperança, animando a viver o exemplo dos santos peruanos

Em dezembro, o Papa Francisco voltou a mandar uma mensagem – desta vez, aos jovens da Guarda do Papa -, em que os convida a viver melhor o Natal e a sair de si mesmos para encontrar Jesus. “Já estou sonhando com a viagem”, dizia o Santo Padre https://youtu.be/nympcipXuSg).

A volta que o Papa ansiava dar

A viagem do Papa Francisco ao Peru e o seu percurso por três cidades diferentes da Selva e da costa peruana pode ser resumida assim: em Puerto Maldonado, preocupação pela natureza e pelos povos autóctones; em Trujillo, onde vai celebrar uma Missa na esplanada costeira de Huanchaco, que será um ponto de confluência para milhares de cidadãos do norte do Peru prejudicados pelo fenômeno do El Niño.

Capela do Palácio Arquiepiscopal, onde será a reunião com bispos peruanos

Por fim, Lima será protagonista do fim de festa do Papa Francisco. O último dia no Peru será marcado pelo encontro com mais de 550 monjas de clausura no Santuário das Nazarenas; oração diante das relíquias de santos peruanos na Catedral de Lima, encontro com os bispos, o Ângelus na Praça de Armas da varanda do Paço Arquiepiscopal, e para terminar em beleza, a missa na base aérea “Las Palmas” onde os organizadores esperam reunir mais de um milhão e 200 mil pessoas.

Nas três cidades, milhares de jovens inscritos na Guarda do Papa preparam-se para ajudar, de diferentes modos, na organização, mobilização e deslocações nos diferentes lugares que se preparam para receber o Pontífice. Como referiu o cardeal Juan Luis Cipriani “os jovens são a alma desta visita”.

Tem sido dito que a viagem do Papa Francisco deve marcar um antes e um depois na vida do Peru. O lema da visita “unidos pela esperança” é uma exortação a cada cidadão para confirmar a fé, encher-se de esperança e dar um impulso a uma conversão interior, com o olhar em Jesus Cristo. Peruanos e chilenos esperam com ânsia a bênção de Francisco, o primeiro Papa latino-americano.