O Apóstolo São Filipe

Ao ilustrar a vida do Apóstolo Filipe, nossa Catequese de hoje destaca a sua posição favorável dentro do Colégio Apostólico, ajudando-nos a conhecer, na humanidade Santíssima de Cristo, nosso Pai dos céus. Por isso, São Paulo nos convida a “aprender de Cristo” (cf. Ef 4,20), não só escutando os seus ensinamentos, mas descobrindo a verdadeira identidade de nosso Senhor, pela sua riqueza inefável de graça e misericórdia.

Queridos irmãos e irmãs:

Ao seguir traçando o semblante dos diferentes apóstolos, como estamos fazemos há algumas semanas, nos encontramos hoje com Filipe. Nas listas dos doze sempre aparece em quinto lugar (em Mateus 10, 3; Marcos 3, 18; Lucas 6, 14; Atos 1, 13), ou seja, fundamentalmente entre os primeiros. Ainda que Filipe fosse de origem judaica, seu nome é grego, como o de André, o que constitui um pequeno gesto de abertura cultural que não podemos desvalorizar. As notícias que nos chegam dele procedem do Evangelho de João. Era do mesmo lugar de Pedro e André, ou seja, Betsaida (cf. João 1, 44), uma pequena cidade que pertencia à tetrarquia de um dos filhos de Herodes o Grande, que também se chamava Filipe (cf. Lucas 3, 1).

O quarto Evangelho conta que, depois de ter sido chamado por Jesus, Filipe se encontra com Natanael e lhe diz: «Esse do qual escreveu Moisés na Lei, e também os profetas, nós o encontramos: Jesus, o filho de José, o de Nazaré» (João 1, 45). Ante a resposta mais cética de Natanael -- «De Nazaré pode sair coisa boa?» --, Filipe não se rende e responde com decisão: «Vem e vê» (João, 1, 46). Com esta resposta, seca mas clara, Filipe demonstra as características da autêntica testemunha: não se contenta em apresentar o anúncio como uma teoria, mas interpela diretamente o interlocutor, sugerindo-lhe que ele mesmo faça a experiência pessoal do anunciado. Jesus utiliza esses dois mesmos verbos quando dois discípulos de João Batista se aproximam d’Ele para perguntar-lhe onde vive: Jesus respondeu: «Vinde e vede» (cf. João 1, 38-39).

Podemos pensar que Filipe nos interpela com esses dois verbos que supõem uma participação pessoal. Também a nós diz o que disse a Natanael: «Vem e vê». O apóstolo nos chama a conhecer Jesus de perto. De fato, a amizade, conhecer verdadeiramente o outro, requer proximidade, e mais ainda, vive dela. De fato, não podemos esquecer que, segundo escreve Marcos, Jesus escolheu os doze com o objetivo primário de que «estivessem com ele» (Marcos 3, 14), ou seja, de que compartilhassem a sua vida e aprendessem diretamente d’Ele não só o estilo de seu comportamento, mas antes de tudo quem era Ele realmente. Só assim, participando de sua vida, podiam conhecê-lo e anunciá-lo. Mais tarde, na carta de Paulo aos Efésios, pode ler-se que o importante é «o Cristo que vós haveis aprendido» (4, 20), ou seja, o importante não é só nem sobretudo escutar seus ensinamentos, suas palavras, mas conhecê-lo pessoalmente, ou seja, a sua humanidade e divindade, o mistério da sua beleza. Ele não é só um Mestre, mas um Amigo, e mais do que isso, um Irmão. Como poderíamos conhecê-lo se estamos distantes d’Ele? A intimidade, a familiaridade, o costume, nos fazem descobrir a verdadeira identidade de Jesus Cristo. Isto é precisamente o que nos recorda o apóstolo Filipe. Por isso, nos convida a «vir» e a «ver», ou seja, a entrar em um contato de escuta, de resposta e de comunhão de vida com Jesus, dia após dia.

Por ocasião da multiplicação dos pães, ele recebeu de Jesus um pedido preciso, bastante surpreendente: onde era possível comprar o pão que se necessitava para dar de comer a todas as pessoas que o seguiam (cf. João 6, 5). Então, Filipe respondeu com muito realismo: «Duzentos denários de pão não bastam para que cada um tome um pouco» (João 6, 7). Aqui se podem ver o realismo e o espírito prático do apóstolo, que sabe julgar as implicações de uma situação. Sabemos o que aconteceu depois. Sabemos que Jesus tomou os pães, e após ter rezado, os distribuiu. Deste modo, realizou a multiplicação dos pães. Mas é interessante o fato de que Jesus se dirigisse precisamente a Filipe para ter uma primeira impressão sobre a solução do problema: sinal evidente de que formava parte do restrito grupo que o rodeava.

Em outro momento, muito importante para a história futura, antes da Paixão, alguns gregos que se encontravam em Jerusalém com motivo da Páscoa, «se dirigiram a Filipe... e lhe rogaram: “Senhor, queremos ver Jesus”. Filipe foi dizer isso a André; André e Filipe foram dizer a Jesus» (João 12, 20-22). Mais uma vez, nos encontramos ante o indício de seu prestígio particular dentro do colégio apostólico. Neste caso, em particular, realiza as funções de intermediário entre o pedido de alguns gregos — provavelmente falava grego e pôde ser o intérprete — e Jesus; ainda que se una a André, o outro apóstolo de nome grego, de qualquer forma os estrangeiros dirigem-se a ele. Isto nos ensina a estar, também nós, dispostos tanto a acolher os pedidos e invocações, venham de onde vierem, como a orientá-las para o Senhor, pois só ele pode satisfazê-las plenamente. É importante, de fato, saber que não somos nós os últimos destinatários dos pedidos de quem se aproxima, mas o Senhor. Temos que orientar para Ele quem se encontre em dificuldade. Cada um de nós tem que ser um caminho aberto para Ele!

Há outra oportunidade sumamente particular na qual Filipe intervém. Durante a Última Ceia, depois de Jesus afirmar que conhecê-lo significa também conhecer o Pai (cf. João 14, 7), Filipe, quase ingenuamente, lhe pediu: «Senhor, mostra-nos ao Pai e isso nos basta» (João 14, 8). Jesus lhe respondeu com um tom de benévola rejeição: «Tanto tempo faz que estou convosco e não me conheces, Filipe? Quem me viu, viu o Pai. Como tu dizes: “Mostra-nos o Pai”? Não crês que eu estou no Pai e o Pai está em mim? [...] Crê em mim: eu estou no Pai e o Pai está em mim» (João 14, 9-11). São umas das palavras mais sublimes do Evangelho de João. Contêm uma autêntica revelação. No final do «Prólogo» de seu Evangelho, João afirma: «Ninguém jamais viu a Deus: o Filho único, que está no seio do Pai, ele o revelou» (João 1, 18). Pois bem, essa declaração, que é do evangelista, é retomada e confirmada pelo próprio Jesus. Mas com um detalhe. De fato, enquanto o «Prólogo» de João fala de uma intervenção explicativa de Jesus através das palavras de seu ensinamento, na resposta a Filipe, Jesus faz referência à sua própria pessoa como tal, dando a entender o paradoxo da Encarnação, podemos dizer que Deus assumiu um rosto humano, o de Jesus, e por conseguinte a partir de agora, se realmente queremos conhecer o rosto de Deus, só nos resta contemplar o rosto de Jesus! Em seu rosto vemos realmente quem é Deus e como é Deus!

O Evangelista não nos diz se Filipe compreendeu plenamente a frase de Jesus. O certo é que lhe entregou totalmente sua vida. Segundo algumas narrações posteriores («Atos de Filipe» e outros), nosso apóstolo teria evangelizado em um primeiro momento a Grécia e depois a Frígia, e lá teria enfrentado a morte, em Hierópolis, com um suplício que alguns mencionam como crucifixão e outros lapidação.

Queremos concluir nossa reflexão recordando o objetivo para o qual deve orientar-se nossa vida: encontrar Jesus, como Filipe o encontrou, tentando ver n’Ele o próprio Deus, Pai celestial. Se falta esse compromisso, nos encontraremos só conosco mesmos, como em um espelho, e cada vez ficaremos mais sozinhos! Filipe nos convida, ao contrário, a deixar-nos conquistar por Jesus, a estar com Ele e a compartilhar esta companhia indispensável. Deste modo, vendo, encontrando a Deus, podemos encontrar a verdadeira vida.