O milagre diário de Monkole

Uma espanhola dirige em Kinshasa o grupo de enfermeiras de um dos principais hospitais da zona, recém-ampliado com capital internacional.

La voz de Galicia

«Aqui o dia a dia vive-se de um modo diferente, sem muita programação nem organização, já que de pouco serve organizar-se se as contínuas faltas de luz alteram todo o horário». É surpreendente que isto seja dito pela chefe das enfermeiras de um grande hospital. Mas as coisas são assim em Kinshasa, capital da República Democrática do Congo, onde há 16 anos vive Candelas Varela, natural de Vigo, uma enfermeira que foi para lá para participar num projeto de cooperação por dois anos e ficou cativada pelo fascínio de África e a satisfação de ajudar os outros.

O novo hospital foi «uma loucura feliz, embora já esteja ficando pequeno outra vez»

Candelas e o restante pessoal estão comemorando. O hospital Monkole, onde trabalham, acaba de inaugurar uma ampliação que o converteu num centro de referência em todo o país. A obra contou com ajuda espanhola, de onde vieram quase nove milhões de euros de diferentes entidades públicas e privadas. Mas toda essa ampliação não pode evitar, como explica Candelas, que falhe a corrente elétrica e toda a planificação caia por terra; ou seja cortado o abastecimento de água e não se possam fazer limpezas, nem cozinhar... Ou se interrompa o serviço de ônibus. Assim, apesar de todos os investimentos, o funcionamento diário do hospital é um pequeno milagre na capital de um país com setenta milhões de habitantes e no qual a esperança de vida é de 48 anos.

Sete anos de obras. O aspecto do novo hospital, acima, é o resultado de uma obra que se prolongou por sete anos. A ala de pediatria, onde aparece a galega Candelas Varela com uma criança afetada de desnutrição, foi a mais beneficiada.

Contudo, Candelas diz que o novo hospital foi «uma loucura feliz, embora já esteja ficando pequeno outra vez». Mas, como ela explica, há uma grande diferença entre dispor de um único quarto de pediatria com dez camas ou de sete quartos com uma, duas e três camas.

Formação de profissionais

O hospital de Monkole faz também um importante trabalho de formação de profissionais de saúde: «A solução deste país tem que passar pela educação», assegura Candelas e no hospital forma-se pessoal de saúde de todo o tipo. Também enfermeiras que, nesse ambiente, têm uma importância capital: «Nos centros de saúde de mais difícil acesso, são as enfermeiras que fazem consultas, detectam a doença, prescrevem os medicamentos e transferem para o hospital os casos mais difíceis. Têm uma grande responsabilidade e o seu papel é fundamental».

Candelas desfruta de um ambiente onde a população é muito jovem, vive na rua «e tem muita vontade de viver, de rir, de dançar...».

Atualmente, a situação política na República Democrática do Congo é estável, «Mas, aqui tudo explode em questão de minutos». Enquanto a situação se mantém tranquila, Candelas desfruta de um ambiente onde a população é muito jovem, vive na rua «e tem muita vontade de viver, de rir, de dançar...». Embora seja inevitável que, como boa galega, tenha vontade de regressar: «Quando aqui estou, tenho saudades de Espanha e, quando estou lá, sinto falta de Kinshasa». Em qualquer caso, o que Candelas constatou desde que chegou a África é que ali se sente muito mais útil do que na Espanha. E por isso continuará no Congo por muito tempo, ajudando no desenvolvimento do país que a acolheu.