Histórias da Jornada Mundial da Juventude (I)

Cracóvia. 2016. Dezenas de milhares de jovens vindos dos quatro cantos do mundo chegaram à capital polonesa para participar, junto do Papa Francisco, da 31ª Jornada Mundial da Juventude. Cada um com a sua história, seus anseios e preocupações.

Texto e fotografias: Ismael Martínez Sánchez.

Espanha

Guillermo Mijancos, 28 anos

Guillermo viajou de Munique para a JMJ. Na foto está com a sua namorada, Bea. Fotografia: Ismael Martínez Sánchez

Tocava bateria em um grupo de música com amigos piratas. Isso, para mim, era ser jovem. Vivia para os concertos de amigos e desfrutávamos deles todos os finais de semana, viciado em viver cada segundo no palco… ainda que tocar as baquetas implicasse ser paciente. Acabei o curso de arquitetura em Sevilha e emigrei para Munique à procura de emprego. Não pude levar a bateria... mas apliquei a tática da paciência e Deus me premiou com um trabalho e uma namorada. Ambos ajudavam a me conhecer: a Bea, minha namorada, conhece os meus defeitos e ajuda-me a ser paciente, e o chefe me anima a dar o meu melhor.

Acabei o curso de arquitetura em Sevilha e emigrei para Munique à procura de emprego. Não pude levar a bateria... mas apliquei a tática da paciência e Deus me premiou com um trabalho e uma namorada.

Curiosamente, essa “paciência” diante dos problemas do mundo é o que admiro no Papa Francisco. Não sei se isto é muito teológico, mas gosto da “sua paciência” perante a imperfeição da vida. Explico-me: suponho que o Papa poderia cansar-se perante as faltas alheias – ou do que vê em outras pessoas na Igreja – mas é realista com sentido positivo, sem ser agourento ou alarmista, e desafia-me a viver uma vida simples, sem máscaras. Além disso, julga primeiro a si próprio reconhecendo os seus erros e, depois, pede misericórdia para os outros. É muito autêntico.

Admiro essa autenticidade e paciência do Papa diante da imperfeição humana – como a minha namorada, que me surpreende todos os dias… Sim, num mundo imperfeito, gosto das pessoas imperfeitas com paciência diante do imperfeito.

Curiosamente, essa “paciência” diante dos problemas do mundo é o que admiro no Papa Francisco. Não sei se isto é muito teológico, mas gosto da “sua paciência” perante a imperfeição da vida

Isto atrai-me no Papa Francisco e por isso vou vê-lo em Cracóvia. Irei de carro no último dia para me juntar a outros católicos da rua que procuram um trato autêntico com Deus sem pensar que são perfeitos nem super preparados. Agora não tenho muito dinheiro guardado – estou poupando para comprar uma bateria – mas neste sábado estarei na Polônia com o Papa. É tempo de ter também outras novas melodias.

Hong Kong

Hilda, 27 anos

Hilda, de Hong Kong, espera encontrar na JMJ a força mental e espiritual para seu trabalho com pessoas desfavorecidas. Fotografia: Ismael Martínez Sánchez.

Trabalho numa empresa como contabilista em Hong Kong, onde passei os últimos anos da minha vida. Nunca tive realmente um sonho, salvo viver o dia a dia com sentido pragmático para ter futuro.

No meu ambiente profissional, nós, os jovens, passamos muito tempo comparando o nosso “status econômico”, por isso entristecia-me a situação dos jovens que via mendigando na rua, sem ter estudos.

Antes da JMJ de Cracóvia, tomei a decisão de fazer um break na minha vida para me dedicar à educação e ao mentoring com jovens da rua, como voluntária em bairros humildes de Hong Kong.

Por isso, antes da JMJ de Cracóvia, tomei a decisão de fazer um break na minha vida para me dedicar à educação e ao mentoring com jovens da rua, como voluntária em bairros humildes de Hong Kong. Gosto muito de me dedicar à educação, embora saiba que – sendo realista – verei muito sofrimento...

Espero em Cracóvia encontrar a força mental e espiritual para levar a cabo esse projeto. Só tenho uma irmã, mas tenho dez tios maternos e, suponho que – graças a essa influência familiar – despertou em mim o sentido de ajudar os outros.

Nova Zelândia

PatriciaTevaga, 20 anos

Patricia estuda Criminologia em Auckland. Recebe formação cristã na Legião de Maria, fundada por São Vicente de Paulo. Fotografia: Ismael Martínez Sánchez.

Apaixona-me a Criminologia. No último ano e meio estudei matérias relacionadas com o meu futuro para ser detetive. Curiosamente – pelos meus estudos – vi vários cadáveres e sempre penso que o importante, no fim,é poder ir para o Céu… Bom, também é verdade que os cadáveres não são a única coisa que vejo... Também vejo e leio o Evangelho. Faço o que posso graças à formação que recebo na Legião de Maria, fundada por São Vicente de Paulo.

Bom, também é verdade que os cadáveres não são a única coisa que vejo... Também vejo e leio o Evangelho. Faço o que posso graças à formação que recebo na Legião de Maria

Vivo em Auckland, capital de Nova Zelândia, país do rugby e de veleiros. Ali, os meus pais transmitiram-me a fé em uma família numerosa de oito irmãos. É verdade que quando se é jovem nem sempre gostamos de fazer o que os outros nos dizem, mas com o tempo percebemos que os conselhos familiares não são para nos cortar a cabeça, mas para a encher de adubo. Para que germinem boas ideias. Ideias com boas obras. Para ter a melhor colheita da nossa vida.

Como voluntária na JMJ sinto que as ideias da minha cabeça se purificam no meu coração vendo o Papa tão perto

Agora com 20 anos, ajudo mais e vou mensalmente visitar doentes juntamente com os sacerdotes da minha paróquia. Como voluntária na JMJ sinto que as ideias da minha cabeça se purificam no meu coração vendo o Papa tão perto

Polônia

Damian Kosecki, 23 anos

Damian e Paulina, sua noiva. Pede orações pelo seu pai, que tem um câncer com metástases. Fotografia: Ismael Martínez Sánchez.

Chamo-me Damian e, juntamente com um amigo espanhol, criamos um grupo de música reggae em Szczezin, onde toco instrumentos de percussão. A verdade é que pensava estudar Musicologia depois do liceu, mas afinal decidi cursar Teologia. E é nisso que estou: estou no quinto ano de estudos teológicos para ser professor de religião.

A verdade é que pensava estudar Musicologia depois do liceu, mas afinal decidi cursar Teologia

O motivo da minha escolha é que Deus sempre esteve presente na minha vida. Quando a minha mãe estava grávida, a placenta soltou-se e clinicamente estava condenado a morrer. No entanto, a minha mãe deu à luz sem problemas e de acordo com os resultados do teste Apgar estava a cem por cento., estava em perfeitas condições. Salvo talvez, hoje, pela timidez.

Não tinha a certeza se deveria vir a Cracóvia mas a minha noiva Paulina convenceu-me e deu-me a segunda maior alegria do último mês. A primeira foi aceitar o meu pedido de casamento há umas semanas para nos casarmos em maio de 2017.

No entanto, hoje, é também um dia triste em minha casa. Recebi a confirmação telefônica de que o meu pai tem um câncer com metástase e, ainda que não deixe de ter esperança, também eu necessito de orações

No entanto, hoje, é também um dia triste em minha casa. Hoje recebi a confirmação telefônica de que o meu pai tem um câncer com metástase e, ainda que não deixe de ter esperança, também eu necessito de orações para o dia em que chegar a Szczecin. Gostaria de sentir a comunhão dos santos... Muito obrigado pelas suas orações.

Nigéria

Thomas Umiunu, sacerdote, 31 anos

Thomas, nigeriano, agradece a São João Paulo II sua vocação sacerdotal. Fotografia: Ismael Martínez Sánchez.

Vivo em Abuja, capital da Nigéria, e sonhei visitar o país do papa polonês desde que João Paulo II visitou a Nigéria no início dos anos 80. Nessa altura os meus pais, católicos, colocaram um quadro do Papa em casa. Eu olhava-o na esquina do quarto e, graças ao seu exemplo, decidi ir para o seminário.

Quero entregar-me a Ti e Tu mandas-me esta prova?…, pensava. Foram realmente momentos duros porque o meu pai faleceu e eu sentia dúvidas de vocação

O meu pai adoeceu no primeiro ano dos meus estudos. Voltei para casa para o visitar. Os meus pais, bons cristãos, pediram-me para reconsiderar o meu regresso a casa. ‘Como me fazes isto, meu Deus? - Quero entregar-me a Ti e Tu mandas-me esta prova?…, pensava.

Foram realmente momentos duros porque o meu pai faleceu e eu sentia dúvidas de vocação. Aquela prova superou-se graças a Deus e aos meus companheiros seminaristas. Hoje sou sacerdote e a minha mãe está muito contente com o meu caminho sacerdotal que eu agradeço ao Papa polonês.