"Dom Álvaro foi fiel a São Josemaria por ser fiel a Deus e a Igreja"

Por ocasião do centenário do nascimento de D. Álvaro e do seu vigésimo aniversário de falecimento, foram celebradas diversas Missas no Brasil. Apresentamos a homilia do Mons. Vicente, Vigário Regional do Opus Dei no Brasil na Missa na Catedral da Sé de São Paulo no último dia 22 de março.

Acabamos de ouvir a parábola do filho pródigo, cujo nome, segundo o Papa Bento XVI, poderia também muito bem ser chamada de “a parábola do Pai misericordioso”.

Essa parábola é um maravilhoso pano de fundo de toda a quaresma quando a Igreja, ao convidar-nos para uma nova conversão quer acentuar a misericórdia de Deus. Quando a graça da conversão acontece, o ator principal é Deus misericordioso que, mesmo que o nosso arrependimento seja ainda incipiente e não plenamente assumido, sai ao nosso encontro para abraçar-nos e beijar-nos. Como repete o Papa Francisco, nosso Deus é um Deus de ternura e nos acolhe com abraços e beijos!

A graça da conversão tem sempre esse elemento de surpresa que teve o filho pródigo ao ser recebido com tanta festa: Eu sabia que meu Pai me amava, mas não tanto assim! Quando nós morrermos e o véu que cobre os nossos olhos for retirado e virmos que na Paixão Nosso Senhor morreu por cada um de nós, por mim, pelos meus pecados, nós diremos: eu sabia que Deus me amava, mas não tanto assim e choraremos com lágrimas de dor. De contrição e de imensa alegria. E em cada quaresma, principalmente no seu momento culminante que é Semana Santa nos é oferecida essa graça de uma nova conversão!

Mas como nessa Missa queremos falar também de Dom Álvaro eu queria apanhar a frase final do Evangelho de hoje. Quando o Pai ao dirigir-se ao irmão mais velho lhe diz: “Filho tu sempre estás comigo!”.

No contexto da parábola essas palavras tem um sentido de censura amorosa, mas eu penso que hoje podemos dizer que a Igreja, ao elogiar no Decreto publicado as virtudes heroicas de D. Álvaro, dessa vez em um contexto de plena aprovação, está lhe dizendo: Filho: tu sempre estás comigo!

De fato, nesse documento da Igreja louva-se a fidelidade de Dom Álvaro: fidelidade a Deus, fidelidade à Igreja, sua Mãe, fidelidade ao sacerdócio e fidelidade a São Josemaria, com quem conviveu quase diariamente durante 40 anos.

São Josemaria ficava impressionado e agradecido a Deus por Ele ter colocado ao seu lado, como estreito colaborador, esse seu filho espiritual cuja fidelidade era uma rocha. Dom Álvaro foi fiel a São Josemaria por ser fiel a Deus e a Igreja, completamente esquecido de si mesmo, entregando-se aos outros, por amor a Deus, em plena sintonia com o Fundador do Opus Dei.

Dom Álvaro era tão fiel ao espírito da Obra, sua sintonia com a missão de São Josemaria era tão grande e tão fina, sua assimilação do espírito do Opus Dei tão profunda, trabalharam juntos tantos anos, que Dom Álvaro conseguia habitualmente acertar qual era a mente do nosso Padre em cada assunto. Dessa forma São Josemaria podia confiar-lhe grandes responsabilidades com a segurança que Dom Álvaro acertaria em todas as decisões.

Na carta que nos escreveu neste mês de março o Prelado do Opus Dei nos lembrava um comentário de São Josemaria a respeito de Dom Álvaro: eu gostaria que vocês o imitassem em muitas coisas, mas sobretudo na lealdade. Em todos esses anos de sua vocação, apresentaram-se muitas ocasiões em que –falando humanamente- poderia zangar-se, aborrecer-se, ser desleal: e sempre teve um sorriso e uma fidelidade incomparáveis.

São Josemaria dizia, referindo-se ao trabalho de governo em qualquer instituição da Igreja, que Muitas vezes não há outro remédio senão passar um mal bocado e fazê-lo passar aos outros para cumprir a vontade de Deus. Com outras palavras, os problemas tem que ser enfrentados mesmo que se sofra ao fazê-lo.

Pois bem, nos momentos em que havia que dizer um “Não!”, ou corrigir alguma situação, talvez chamar a atenção de alguma pessoa, esclarecer um mal-entendido em alguma situação delicada, Dom Álvaro se apresentava! Poupava o nosso Padre destes desgastes de autoridade, assumindo ele a tarefa difícil. E Dom Álvaro tinha um dom especial para esse tipo de situações. Com fortaleza, sensibilidade, capacidade diplomática, com a arte de encontrar as melhores palavras, sem transigir no que devia ser corrigido, sabia intervir com suavidade e compreensão e conseguia solucionar muito satisfatoriamente problemas sérios. Outras vezes tratava-se de dificuldades que surgiam com bispos, cardeais, que não entendiam ou não aceitavam a novidade pastoral, teológica e canônica do Opus Dei, e novamente Dom Álvaro era quem com toda a serenidade assumia o diálogo esclarecedor usando a sua capacidade teológica e jurídica,a sua compreensão para defender as características genuínas da Obra. São Josemaria nos contava que muitas vezes Dom Álvaro teve que ouvir comentários agressivos e mordazes que visavam o nosso Padre e ele os aparava e esclarecia sem sequer mencioná-los a São Josemaria para evitar-lhe desgostos.

Dessa forma podemos ver o alcance da fidelidade de Dom Álvaro e somos convidados a imitá-lo. Podemos perguntar-nos: somos fiéis a Deus? à nossa missão? ao espírito do Opus Dei, nas circunstâncias difíceis, em que ser coerente supõe passar um mal bocado, enfrentar situações complexas?

Na oração da estampa de Dom Álvaro nós pedimos “fazei com que eu também saiba corresponder às exigências da vocação cristã”. A vocação cristã tem exigências.Por ex. enfrentar problemas de relacionamento, ter uma conversa mais difícil com a esposa, com o marido, com um filho. Enfrentar problemas éticos na vida profissional. Ajudar alguém a quem temos o dever de ajudar e que recusa qualquer ajuda e pode reagir mal diante da nossa aproximação... A pessoa fiel sabe dizer como Dom Álvaro:“Eu assumo”! Sabe enfrentar um problema, equacioná-lo e lançar-se a solucioná-lo, mesmo que tenha que sofrer ao fazê-lo! Sei que não preciso ficar exemplificando, porque todos nós entendemos o que é ser fiel diante das exigências da vocação cristã.

Dom Álvaro aprendeu de São Josemaria a ser muito mariano e ao mesmo tempo que assumia os enormes desafios da fidelidade, apoiava-se em Nossa Senhora, Virgem fiel, rezando muito a Maria. Peçamos a Ela contando também com a intercessão de Dom Álvaro que todos nós sejamos muito fiéis.