Áudio do Prelado: Ensinar ao que não sabe e dar bom conselho

Dom. Javier Echevarría reflete no podcast de junho sobre as duas primeiras obras de misericórdia espirituais, no qual reforça que "o coração: esse é o segredo das obras de misericórdia".

1. As obras de misericórdia (Introdução) (Dezembro/2015)

2.Visitar e cuidar dos doentes (Janeiro/2016)

3.Dar de comer a que tem fome e dar de beber a quem tem sede (Fevereiro/2016)

4.Vestir os nus e visitar os presos (Março/2016)

5.Dar pousada ao peregrino (Abril/2016)

6.Sepultar os defuntos (Maio/2016)

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Entre as obras de misericórdia espirituais, detenho-me hoje nas duas primeiras: ensinar ao que não sabe e dar bom conselho. Ensinar é uma das tarefas mais bonitas que podemos realizar. Pensemos no trabalho educativo das mães, porque quanta paciência, alegria e generosidade demonstram na sua atenção aos filhos, para ajudá-los a atingir a maturidade humana e sobrenatural! O Papa Francisco disse que: “A mãe, antes de mais nada, ensina a caminhar na vida e sabe como orientar os filhos (...) Não o aprendeu nos livros, aprendeu-o antes no seu próprio coração”.

Quero acrescentar que, ao mesmo tempo, também o pai de família tem que aprender todos os dias, com coração reto, a ser bom esposo, bom pai, gastando-se cotidianamente – como faz a sua esposa – para cuidar e aquecer o bom clima do lar.

O coração: esse é o segredo das obras de misericórdia, que movem a vontade e nascem da caridade, desse amor de Deus que pode chegar a outras pessoas através de ti, de mim.

No Evangelho, escutamos estas palavras que Cristo dirige aos que O foram prender no horto das oliveiras: “Todos os dias me sentava a ensinar no Templo”. A sua vida pública, com efeito, tinha consistido sobretudo em ensinar-nos o caminho de filhos de Deus, em iluminar a nossa inteligência, em abrir-nos a via para chegar a Deus Pai, com a ajuda do Paráclito.

E nessa mesma linha, maravilha-nos a força do seu discurso da montanha, das parábolas que descrevem o reino dos céus e também os diálogos de Jesus com diferentes personagens: cenas em que o Mestre transmite a todos – também aos que agora caminham – modos diversos de percorrer os caminhos da salvação. Por isso, como salienta o Papa, “para sermos capazes de misericórdia, devemos em primeiro lugar colocar-nos à escuta da Palavra de Deus. Isto significa recuperar o valor do silêncio para meditar a Palavra que se nos dirige”.

Só cumpre o ofício de bom mestre, e só pode aconselhar retamente os outros, quem estiver permanentemente disposto a aprender. Todos devemos abrir-nos com docilidade aos ensinamentos do Mestre se realmente desejamos ajudar o próximo com sinceridade. Por isso, ler o Evangelho com atenção e recolhimento – um costume que vos convido a praticar todos os dias, com uma leitura tranquila, repousada, meditando o que Deus nos prega – far-nos-á mais sensíveis para experimentar a misericórdia do seu Pai celestial e captar assim as inspirações do Espírito Santo. E então, quando tivermos que orientar ou dar um conselho a uma pessoa, brotará em nós a pergunta imediata: como Cristo faria? E atuaremos em consequência.

Em muitas ocasiões – em todas! – o bom exemplo será o melhor modo de ajudar os outros. São Josemaria recorda no seu livro Sulco que “Jesus começou a fazer e depois a ensinar: tu e eu temos que dar o testemunho do exemplo, porque não podemos levar uma dupla vida; não podemos ensinar o que não praticamos. Por outras palavras, temos de ensinar aquilo que, pelo menos, lutamos por praticar”. Com efeito, a nossa luta, o nosso desejo de conversão, constituirá um estímulo para que outros se fixem no nosso empenho em viver a fidelidade cristã. Se queremos ajudá-los, temos que nos exigir primeiro pessoalmente.

Por outro lado, dar um conselho oportuno para servir, implica um ato de generosidade, porque requer sair do próprio eu e colocar-se na situação do próximo, procurando compreendê-lo a fundo – sem esquecer as suas circunstâncias pessoais, com o fim de dar a sugestão certa. Sempre se tratará de um conselho de amizade e, com frequência, com intenção sobrenatural já que assim se poderá ajudar o outro e verá as coisas com um horizonte mais amplo, que é o de Deus.

Estas obras de misericórdia devem impulsionar-nos a mostrar generosamente a outros o caminho que conduz a Cristo. São Josemaria indicava que “o apostolado é como a respiração do cristão: não pode um filho de Deus viver sem esse palpitar espiritual (...). O zelo pelas almas é um mandamento amoroso do Senhor, que (...) nos envia pelo orbe inteiro como suas testemunhas.”.

Muitas pessoas, talvez sem o saberem, esperam que lhes dê a conhecer a Cristo. Realmente sem Ele não há verdadeira felicidade! Esperemos que as graças deste Ano da misericórdia nos ajudem a superar os obstáculos que às vezes nos detêm para fazer apostolado: são os respeitos humanos, a preguiça, ou simplesmente o pensamento de que se trata de uma tarefa impossível. Convidemos, no entanto, aqueles com quem convivemos na nossa vida corrente a olhar para o rosto do Senhor, mostremos – insisto – os seus ensinamentos com a nossa vida, expliquemos a doutrina da Igreja quando for necessário e, comportemo-nos sempre de modo coerente com a nossa fé. Deste modo, tornaremos atrativo um estilo de vida de acordo com o Evangelho.

Cito de novo São Josemaria, pois indicava-nos que: “Temos que conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, por que não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama”.

Assim atuou sempre o fundador do Opus Dei. A sua vida consistiu principalmente em transmitir aos que encontrava, o espírito que tinha recebido de Deus. Fui testemunha do seu zelo por nos deixar claro, até nos mais pequenos detalhes, como seguir a Cristo santificando a vida corrente. Fazia-o com coração materno e paterno: servindo-se de detalhes correntes, arrastando-nos com o seu exemplo, recordando-nos cada coisa com paciência e também com energia, quantas vezes fosse necessário.

Sugiro que, neste Ano da misericórdia, leiam alguma das biografias que relatam diversos episódios da vida de São Josemaria, ainda que já tenham lido antes. Os seus ensinamentos surgem diretamente do Evangelho, e transmitem, como diz o Senhor, coisas velhas e coisas novas, que nos oferecem sempre a capacidade de dar também um impulso à nossa própria vida espiritual. Ao ler essas biografias ou os seus escritos, o Senhor nos ajudará a descobrir, para a nossa conduta pessoal, aspetos estupendos, atrativos, do espírito cristão que poderemos transmitir aos outros.

São Josemaria definia o Opus Dei como “a história das misericórdias de Deus”, já que sempre experimentou, nesse colocar em prática a vontade divina, a incomparável proximidade do Senhor. Essa história graças a Deus não se deteve, antes continua hoje nos afazeres de muitos homens e mulheres que se esforçam por assimilar esse modo de viver e de seguir Cristo, sentindo-se os últimos, os servidores.

Realmente, não é uma grande manifestação da misericórdia divina a possibilidade de encontrar a Deus nas ocupações de cada dia? Não manifesta uma carícia do Senhor que possamos colaborar com Ele na grandiosa aventura de levar os frutos da Redenção a todas as encruzilhadas do mundo com a nossa vida corrente?