Aos sábados de manhã, catequese

Este é o testemunho de Marcelo Sheppard, estudante universitário do Uruguai, que foi convidado a ajudar na catequese, junto com um grupo de meninos de um clube juvenil.

Alguns estudantes vão ensinar catecismo a crianças e adolescentes em bairros da periferia de Montevidéu. E, com o passar do tempo, além de recordarem episódios, tomam consciência que quem sai mais beneficiado com estes encontros são eles próprios.

A partir do quarto ano do liceu, no Flama, um clube juvenil do Opus Dei, perguntaram-me e a outros amigos meus se queríamos colaborar na catequese paroquial de um bairro de famílias de baixos recursos econômicos, em Montevidéu. A princípio, custou-nos bastante, pois tratava-se de «sacrificar» a manhã de sábado, que muitos de nós aproveitávamos para dormir.

Nós nos reunimos no dia anterior para preparar o tema que iríamos explicar. Eram as primeiras aulas que dávamos na nossa vida e os alunos eram bastante desconcentrados, motivo que nos obrigava a nos prepararmos muito bem.

No Flama explicaram-nos pormenorizadamente a importância que tinha aquilo que íamos fazer e o amor que São Josemaria Escrivá nutria por estas atividades. Contaram-nos como, no começo do Opus Dei, o fundador saía, com grupos de jovens, para ensinar a doutrina cristã nos bairros periféricos de Madrid.

Comecei ajudando na catequese em Punta Rieles, depois no bairro Euskalerría e, por fim, no km. 14 do Camino Maldonado. Em Punta Rieles, eram umas freiras que nos cediam um local anexo ao convento e ali fazíamos a catequese.

Punta Rieles fica muito perto do bairro chamado “km 14” que percorremos para convidar crianças para as aulas. No sábado a seguir, as crianças do km 14 entraram na despensa do convento e comeram a gelatina de fruta que as freiras tinham preparado para a sobremesa. Tivemos de encontrar uma solução: resolvemos ir ao bairro de onde tinham vindo as crianças que tinham levado a gelatina e deixamos os mais sossegados no local. Tínhamos, portanto, de dar catequese em dois lugares.

O “km 14” é uma comunidade com problemas. As pessoas vivem em barracas de madeira e de lata, o saneamento é bastante precário e, do outro lado da rua, há uma enorme lixeira. Que o local não era dos melhores todos nós já sabíamos e tivemos de explicar muito bem quais eram as nossas intenções para que nos deixassem dar as aulas. Os moradores, que eram batizados, costumavam assistir a «escolas dominicais» de algumas seitas e grupos, e, por vezes, era difícil convencê-los a viver coerentemente a sua fé.

Na primeira aula, fomos com cinco professores. Separamos as crianças por idades e demos as aulas em um terreno, perto de uma lixeira pois não havia qualquer outro lugar disponível. Depois das aulas começou o futebol. No fim do primeiro tempo o Juancho começou a brigar com o Anthony, por causa de uma falta que tinha sido mal marcada pelo árbitro e, pouco tempo depois, correram-nos à pedrada gritando para não voltarmos mais ali. Ressalvando as devidas distâncias, isto nos lembrou o tempo em que São Josemaria, que, só pelo fato de usar batina, ficava exposto a levar pedradas, especialmente quando dava assistência no Hospital del Rey, em Madrid.

Depois de mais duas ou três tentativas, acabaram as pedradas e, com um pouco de esforço e muita ajuda de Deus, as crianças foram sendo preparadas e alguns delas, fizeram a primeira comunhão.

Tivemos logo certeza do bem que a catequese faz às crianças, dando-lhes um apoio moral e a fé que jamais esquecerão.

O que podíamos fazer por eles nessa idade não era dar-lhes trabalho ou resolver o problema da habitação, mas sim ensinar-lhes a doutrina de Nosso Senhor.

O que gostaria de salientar é que, em última análise, os que saíram mais fortalecidos desta experiência fomos nós, que demos as aulas: aprendemos com as crianças, adquirimos maior consciência de quanto é urgente vencer a ignorância que existe em relação à doutrina de Cristo, soubemos de perto o que é a miséria material em contato direto com ela, sofremos com eles. Tudo isto nos deu mais força para lutar para melhorar as condições do nosso país.