Quaresma, tempo de penitência

“A Quaresma nos recorda que a oração e a penitência são constitutivos essenciais da existência do cristão”, afirma D. Javier Echevarría. Publicamos um fragmento da homilia que o prelado do Opus Dei dirigiu aos fiéis reunidos na paróquia da São Josemaría em Roma, por ocasião da ordenação diaconal de fiéis da prelazia do Opus Dei.

Queridos irmãos e irmãs. Queridíssimos filhos.

Neste primeiro domingo da Quaresma, a liturgia nos mostra Jesus que reza e jejua durante quarenta dias no deserto, preparando-se para cumprir publicamente a sua missão salvadora. Precisamente como recordação daquele lapso de tempo, e para imitar Nosso Senhor, a Igreja estabeleceu este período litúrgico de quarenta dias como preparação para a Páscoa. Não há outro caminho: se quisermos seguir os passos de Jesus temos de olhar o seu exemplo e procurar identificarmo-nos com Ele.

O primeiro ensinamento, que surge com clara evidência do seu modo santo de agir, é a absoluta necessidade da oração e da penitência para realizar qualquer obra boa; com maior motivo, a obra da própria santificação. Santo, sem oração?! ... – Não acredito nessa santidade , escreveu São Josemaria Escrivá (Caminho, n. 107), bem consciente – também por experiência pessoal – da primazia da oração na vida cristã.

Este é o primeiro ponto que podemos considerar hoje. Como é a nossa oração? Rezamos todos os dias? Rezamos de verdade, ou seja, não somente com os lábios, mas antes de mais nada com todo o coração? Para uma mulher ou um homem que se sabe criatura e filho de Deus, a oração deveria ser algo espontâneo; deveria emergir constantemente na sua própria vida, não só nos momentos de dificuldade ou quando se experimenta com maior evidencia as limitações pessoais.

A Quaresma oferece a todos a possibilidade de, com o auxílio da graça, redescobrir a importância da oração pessoal, de que nos empenhemos a rezar melhor e a rezar mais. Mas Jesus não se limita a fazer oração. Pratica também o jejum, e durante quarenta dias! É uma luz viva para todos nós, pessoas deste tempo e para aqueles que virão: a mortificação, é um outro modo de rezar; é – como assinalava frequentemente São Josemaria – a oração dos sentidos (É Cristo que passa, n.9).

Com a Quaresma, a Igreja nos recorda que a oração, a penitência e também as obras de misericórdia são constitutivos essenciais da existência do cristão. Não pode haver uma verdadeira vida cristã onde estas práticas não ocupem um lugar de primeiro plano que lhes correspondem no projeto salvífico de Deus.

Não posso deixar de lembrar agora o grato dever de rezar e de oferecer pequenos sacrifícios pelo Santo Padre, pelos bispos e os sacerdotes, pelas vocações sacerdotais na Igreja. Na semana passada fomos testemunhas mais uma vez da completa dedicação de João Paulo II à sua missão de Bom Pastor, da sua serenidade em abraçar os sofrimentos com os quais a divina Providência o abençoa. Esquecendo-se completamente de si, não poupa nada no serviço às almas e ao mundo inteiro. É justo, portanto, como bons filhos, aumentar a nossa oração e os nossos sacrifícios pelo Romano Pontífice.

Para vencer nas batalhas espirituais

O Domingo de hoje nos oferece além disso uma mensagem particular. Depois que o Nosso Senhor rezou e jejuou, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és o Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães"(Mt 4, 2). Mistério impressionante: quem está sendo tentado não é um homem qualquer, mesmo perfeitíssimo, mas o Filho Unigênito de Deus!

Esta cena evangélica deve encher-nos de consolo e de segurança. Também nós somos frequentemente tentados e o seremos até o fim da nossa vida. Satanás e a nossa fraqueza pessoal não desistem de pôr obstáculos no nosso caminho para a vida eterna. Mas Cristo venceu o demônio por nós: unidos a Cristo podemos e devemos enfrentar com sucesso todas as possíveis insídias, com a condição, no entanto, de que não nos coloquemos voluntariamente em tentação, de que fujamos de todas as ocasiões próximas de pecado. Porque, como nos ensinam tantos autores de vida espiritual, o demônio é como um cão amarrado: pode latir muito, mas não pode morder, se nós não nos aproximarmos tontamente dele.

“Se [o demônio] te fizer presente a tua pobreza (...) – exorta um grande Padre da Igreja, São Gregório Nazianzeno – mostra-lhe o que [ele] não adivinha; opõe-lhe aquela palavra de vida que é pão descido do céu e que dá vida ao mundo" (Discurso 40, 10). Aproximar-se com piedade, bem preparados à Confissão e à Comunhão é uma arma formidável para vencer as batalhas espirituais.

Estamos percorrendo um ano especialmente dedicado à Eucaristia, durante o qual temos a possibilidade de lucrar indulgências com maior frequência e facilidade. Elas são uma grande ajuda para a nossa vida cristã; aplicando-nos com abundância os méritos de Cristo, de Nossa Senhora e de todos os santos, nos purificam das penas devidas pelas nossas culpas e nos dão força espiritual.

Para terminar vos recordo uma realidade que conheceis bem: Nossa Senhora é muitas vezes representada no ato de pisar com o seu pé imaculado a cabeça da serpente infernal. Ela é vencedora do demônio e do pecado pela sua íntima união com Cristo e é nossa Mãe. Peçamos, portanto, a Maria que esteja sempre ao nosso lado e nos ajude em todos os momentos da nossa existência. Assim seja.