Era normal haver tantas mulheres ao redor de Jesus?

O papel da mulher na sociedade da época de Jesus contrastava com os seus ensinamentos. Nesse artigo o autor explica um pouco dessa relação e a novidade de Cristo.

A atitude e os ensinamentos de Jesus — que, como se vê no livro dos Atos dos Apóstolos e nas cartas do Novo Testamento, a primeira comunidade cristã também seguiu — outorgava à mulher uma dignidade que contrastava com os costumes da época.

Embora houvesse diferenças entre as classes altas e as populares, o comum era que a mulher não tivesse um lugar na vida pública. Seu âmbito era o lar, onde estava submetida ao marido: saía pouco de casa e, quando saía, fazia-o com o rosto coberto com um véu e sem parar para falar com os homens. O marido poderia dar-lhe o libelo de repúdio e despedi-la. Certamente, tudo isso não se aplicava estritamente às mulheres que, por exemplo, tinham que trabalhar ajudando nas tarefas do campo. Mas, mesmo assim, não podiam deter-se a sós com um homem.

Onde se pode perceber a diferença mais notável com o homem, contudo, é no campo religioso: a mulher estava submetida às proibições da Lei, mas estava liberada dos preceitos (ir às peregrinações até Jerusalém, recitar diariamente a Shemá, etc). Não estava obrigada a estudar a Lei e as escolas reservavam-se para os rapazes. Da mesma forma, nas sinagogas, as mulheres ficavam com as crianças, separadas dos homens. Não participavam no banquete da Páscoa, nem eram contadas entre os que pronunciavam a bênção depois da refeição.

Diante disso, nos evangelhos descobrimos muitos exemplos de uma atitude de Jesus aberta: além das muitas curas de mulheres que realizou, na sua pregação propunha com frequência exemplos de mulheres como aquela que varreu a casa até encontrar a dracma perdida (Lc. 15,8), a viúva perseverante na oração (Lc. 18,3), ou a viúva pobre e generosa (Lc. 21,2). Corrigiu a interpretação do divórcio (Lc. 16,18) e admitiu mulheres no seu seguimento.

No que se refere ao seguimento de Jesus, ou ao discipulado, também a atitude de Jesus foi mais aberta. Jesus tinha seguidores, discípulos sedentários, poderíamos dizer, que moravam nas suas casas, como Lázaro (João 11,1; cfr. Lc. 10,38-39), ou José de Arimatéia (Mt. 27,57). Também como eles, podem considerar-se, da mesma forma que esses, como seguidoras Marta e Maria (Lc. 10,38-41). De Maria se diz que "sentada aos pés do Senhor, escutava a sua palavra" (Lc. 10,39), como uma maneira de significar a atitude do discípulo do Senhor (Cf. Lc 8,15-21).

Também no Evangelho se fala da missão itinerante de Jesus e dos seus discípulos. Nesse contexto se pode entender Lc 8, 2-3 (Cfr. Mt. 27,55-56; Mc. 15,40-41): Jesus "atravessava por cidades e aldeias pregando e anunciando o evangelho do Reino de Deus. Acompanhavam-nO os doze e algumas mulheres que tinham sido liberadas de espíritos malignos e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; e Joana, mulher de Cusa, administrador de Herodes; e Susana e outras muitas que lhes assistiamos serviam com os seus bens". Há um grupo de mulheres que acompanhavam Jesus e os Apóstolos na pregação do Reino e que desempenhavam um labor de diaconia, de serviço.

BIBLIOGRAFIA

J. GNILKA, Jesús de Nazaret, Herder, Barcelona, 1993; A. PUIG, Jesús.Una biografia, Destino, Barcelona, 2005; J. JEREMÍAS, Jerusalén en tiempos de Jesús, Cristianidad, Madrid, 2000; J. GONZALEZ ECHEGARAY, Arqueología y evangelios, Verbo Divino, Estella, 1994.

Vicente Balaguer