Como era o relacionamento de Jesus com o Império Romano?

Jesus manifestou sua opinião ao Estado Romano? São questões discutidas neste artigo

Moeda de César (1790) - Domingos Sequeira (Colecção Família Loureiro Borges)

Dentro do complexo panorama social e político do mundo em que Jesus viveu, muitas vezes encrespado, chama a atenção o fato de que não manifeste abertamente uma repulsa ao Estado romano, ainda que também não o aceite acriticamente.

Um fato significativo é aquele relatado pelos três evangelhos sinópticos no qual alguns fariseus, que tinham combinado entre si e com os herodianos, tratam de pegá-lo fazendo-lhe uma pergunta capciosa: “Mestre, sabemos que es verdadeiro e ensinas o caminho de Deus em toda a verdade, sem te preocupares de ninguém, porque não olhas para a aparência dos homens. Diz-nos pois, o que te parece: é permitido ou não pagar imposto ao César? (Mt. 22, 16-17). A reação de Jesus é muito conhecida: “Jesus percebendo a sua malícia, respondeu: “Por que me tentais, hipócritas? Mostrai-me a moeda com que se paga o imposto!" Apresentaram-lhe um denário. Perguntou Jesus: “De quem é esta imagem e esta inscrição?" “De César", responderam-lhe. Disse-lhes então Jesus: “Daí pois, a César o que é de Casar, e a Deus o que é de Deus". (Mt.22, 18-21).

A resposta de Jesus transcende o horizonte humano dos que estão ali para tentá-lo. Está acima do “sim" e do “não" que queriam arrancar-lhe. A questão era muito insidiosa, pois tinha a intenção de reduzir a atitude religiosa e transcendente de Jesus a um compromisso temporal. A pergunta, no contexto em que foi feita, quase que o obrigava a tomar uma atitude a favor do regime que ocupava a Palestina, ou como revolucionário.

Perante essa provocação, Jesus não confunde Reino de Deus com Estado. De um lado reconhece as competências do Estado na organização de tudo o que faz referência ao bem comum, como é a contribuição dos impostos. Mas a soberania do Estado não é absoluta. No mundo romano daqueles tempos, onde era tributado o culto divino ao imperador, Jesus não reconhece que essa seja uma competência do Estado: há coisas que não devem ser dadas a César, mas a Deus. A instituição civil e a religiosa, segundo os ensinamentos de Jesus, não devem ser confundidas, nem misturar-se em assuntos que não lhe dizem respeito, mas viver harmoniosamente, respeitando os limites de cada uma.

A vida de muitos dos primeiros cristãos — cidadãos do mundo que trabalhavam cada um com seus concidadãos na construção da sociedade em que viviam, mas que tiveram que dar o testemunho do martírio porque leis injustas pretendiam obrigá-los a não respeitar a Deus — é o melhor testemunho destas palavras de Jesus.

BIBLIOGRAFIA

José María CASCIARO, Jesucristo y la sociedad política, Palabra, Madrid 1973, pp. 83-87; J. GNILKA, Jesús de Nazaret, Herder, Barcelona 1993; A. PUIG, Jesús. Una biografía, Destino, Barcelona 2005; Francisco VARO, Rabí Jesús de Nazaret, BAC, Madrid 2005.

Francisco Varo