Carta aberta à Sony

Publicamos a tradução da carta dirigida aos acionistas, diretores e empregados da Sony, produtora do filme "O Código Da Vinci", pelo Escritório de Informação do Opus Dei no Japão.

Aos acionistas, diretores e empregados da Sony Corporation

Estimados senhores:

Saudamos-lhes seguros de que se encontram gozando de muita paz e saúde.

Dirigimo-nos a V. Sas., do Escritório de Imprensa do Opus Dei no Japão, por motivo da próxima estréia, prevista para o mês de maio, do filme “O Código Da Vinci”, que foi produzido pela Sony-Columbia.

Primeiramente gostaríamos de esclarecer que esta carta não tem nenhum propósito polêmico, mas somente informativo. Enviamo-la, com todo o respeito, já que são membros de uma empresa japonesa de grande tradição e ainda pelos motivos que vamos expor na sequência.

Com efeito, durante os últimos meses, é possível que tenham ouvido falar do Opus Dei, no contexto do citado filme. É provável que, para muitos, essa tenha sido a primeira vez que tiveram a ocasião de escutar o nome desta instituição da Igreja, e que alguns se perguntem sobre ela. Por tal motivo, este Escritório sente-se na obrigação de manifestar a sua disponibilidade para informar, a quem quiser conhecer a realidade do Opus Dei, que nada disso tem relação com o retrato que essa novela apresenta. Qualquer um que procure alguma informação, pode dirigir-se a este Escritório. Desse modo teremos a oportunidade de responder o quanto antes, e com muito gosto. As nossas portas estão abertas. Na página web oficial (www.opusdei.org), encontrarão muitos dados sobre esta instituição da Igreja Católica. Comprovarão que a essência da sua mensagem é que o trabalho profissional – qualquer que seja – é caminho de santidade, isto é, marco adequado para viver a fé cristã.

Como provavelmente já sabem, há vários aspectos da novela “O Código Da Vinci” que deformam a figura de Jesus Cristo e que afetam as crenças religiosas dos cristãos. Além disso, esse livro diz que a fé cristã baseia-se numa grande mentira e que a Igreja Católica teria empregado, durante séculos, meios delituosos e violentos para manter as pessoas na ignorância. A novela, ao mesclar realidade e ficção, não esclarece onde estão as fronteiras entre os fatos verídicos e os fatos inventados. Um leitor que conheça superficialmente a história pode chegar, desse modo, a conclusões falsas, e é possível ainda que se sinta inclinado a olhar a Igreja com menos simpatia quando, na verdade, ela é merecedora de todo o respeito.

Todas as corporações, além do patrimônio material, possuem uma série de valores intangíveis, determinados na sua forma justa de tratar os empregados, na qualidade de seus produtos, na atenção a seus clientes, no cuidado com o meio ambiente e em outras ações similares. Tais características expressam a responsabilidade social das empresas, nascida da convicção e não do interesse. Porém, é certo também que os valores intangíveis contribuem para que as corporações sejam apreciadas em seu entorno, e inclusive consolidam o seu valor econômico no mercado de capitais, porque são garantia de estabilidade. Um desses importantes valores imateriais é o comportamento respeitoso da empresa em relação às crenças dos cidadãos. Ser responsável, em nossas sociedades livres, implica ser respeitoso. Esta obrigação afeta, de modo especial, as grandes corporações, que se movem em âmbitos multinacionais e multiculturais, objetos de particular atenção.

Pelas diferentes declarações públicas de pessoas que participam neste projeto, sabemos que a Sony-Columbia deseja vivamente que este filme não fira a sensibilidade religiosa dos espectadores, e quer evitar que a estréia seja motivo de divisão, num mundo já demasiadamente dividido. Esta linha de respeito expressa bem a fama e a cultura da Sony. Alguns meios de comunicação escreveram concretamente que Sony está refletindo na possibilidade de incluir no princípio do filme um “aviso” que venha a esclarecer que tal filme é uma obra de ficção, e que qualquer referência no filme que tenha a pretensão de ser ‘real’ é pura elucubração. Uma eventual decisão da Sony nesse sentido seria um gesto de respeito para com a figura de Jesus Cristo, a história da Igreja e as crenças religiosas dos espectadores.

Um pensamento final: infelizmente hoje em dia não é raro que se utilize o nome de Deus para justificar o ódio e a violência. Precisamente por isso, fazemos um renovado apelo pela paz, que está no coração da Igreja Católica e no ânimo de todos os cristãos.

Finalmente pedimos perdão no caso de que tenhamos empregado alguma expressão inadequada.

Despedimo-nos com os melhores desejos de muita paz, saúde e prosperidade.

Muito obrigado.

Seizo Inahata

Escritório de Informação do Opus Dei no Japão

Ashiya, 6 de abril de 2006